2.3.17

Receita de bolo da vida


Certo dia, pensando sobre todas as coisas que já me aconteceram cheguei a conclusão que havia um denominador comum em cada vez que algo desandava na minha vida. Aquele ingrediente que de alguma forma impedia o bolo de crescer. Talvez não fosse o ingrediente em si, mas a forma com que eu preparava o bolo. Havia algo de errado ali. Eu podia sentir. Mas mesmo que eu refizesse a receita não conseguia descobrir onde estava o erro. Onde eu estava falhando. Comecei imaginar então possíveis causas que estivessem fazendo o bolo afundar depois de crescer. Talvez estivesse colocando a quantidade errada de fermento, ou talvez só não estivesse misturando corretamente. Perguntei a algumas pessoas conhecidas que entendiam do assunto e nenhuma delas foi capaz de me ajudar, algumas até me desprezaram dizendo coisas negativas e até mesmo não dizendo nada. De qualquer forma a culpa era minha, pois usei a mesma receita da Dona Melissa (que faz bolos muito bons) e ao contrário dela, falhei, pois meu bolo não crescia corretamente. Ao menos os bolos eram pra mim, ninguém mais sairia prejudicado se eles não ficassem tão bons. Foi pensando no processo que eu usava, nos ingredientes, nas reações, no resultado final que percebi que podia fazer o mesmo bolo de outro modo. Dessa vez eu o fiz do meu jeito, talvez não seja o melhor nem o mais saboroso, mas a questão é que ele cresceu, e atendeu a minha necessidade.
Mas bem, falando do denominador comum, ele também esteve presente nessa tentativa de acerto da receita.
Eu podia senti-lo nocauteando meu estômago, meus pensamentos, minha essência, minha alma, minha motivação, meu ser. Não tinha nada que eu pudesse fazer, ninguém que eu pudesse recorrer. As poucas pessoas em que eu podia confiar para isso eram a Lily e o Max, pois eles eram como uma família para mim. Mas não, eles não entenderiam, ninguém entenderia, me chamariam de doente mental. Sei disso pois já tentei antes, conversei com a única pessoa que se dispos a me ouvir e ajudar mas a única coisa que eu recebi em troca foi um "isso passa, é uma fase, vai ficar tudo bem". Particularmente não acho que ser apunhalado em cada situação difícil desde sempre seja uma fase. Não, era bem mais que isso, e eu sabia que precisava resolver antes que isso pudesse me impedir de viver. Cada dia era mais dificil. Sempre pensei que se eu descobrisse o que era eu conseguiria derrotá-lo, "know your enemy" eu repetia pra mim mesmo. Essa expressão ecoava nas paredes de meu corpo, vibrava nos meus tímpanos e quase sempre me tirava o sono. Mas eu não desistia.
Certo dia vi uns rapazes mais velhos zombarem um menino e ouvi uma senhora tentando ampará-lo dizendo "Não ouça eles Will, você não está sozinho". Fiquei pensando nisso por um tempo "você não está sozinho", até que tinha um certo sentido, e, sabe, eu realmente queria acreditar nisso. Foi aí que percebi algo: "é claro que não estou sozinho! Como não percebi isso antes?". Eu não estava sozinho, na verdade todos esses anos eu sempre estive acompanhado, entao pude perceber que minha fiel companheira tinha um nome: solidão. Finalmente a fonte do problema tinha sido encontrada, eu estava livre pra agir e me libertar. Mas eu não podia fazer isso. Foi aonde pensei comigo mesmo
"finalmente pude perceber o porquê das coisas sempre darem errado e eu nunca ter tido ninguém pra me ajudar, sempre ter sido rejeitado... eu só preciso aceitar que a solidão é a minha única e melhor amiga e que não preciso depender de ninguém pra ser feliz, não preciso que ninguém se importe comigo, não preciso de ninguém que finja se importar e é melhor aprender a viver com isso, a aceitar isso, pois só assim não haverá mais decepção, só assim poderei viver em paz sem esperar nada de ninguém".

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